ESFINGE VISTA DE FRENTE As críticas que têm sido formuladas às teorias de Bassam El Shammaa e Michael Poe ponderam, em síntese, o que se segue. A existência de esfinges frente a frente nas avenidas de acesso aos templos não tem qualquer relação com a grande esfinge. Os caminhos das procissões para os templos de Karnak e Luxor, onde as esculturas existem, situam-se mais ao Sul e datam do Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) e de épocas posteriores, mais de mil anos depois da escultura da esfinge.
A excelente foto ao lado é cortesia e
© de Jon Bodsworth.

A maioria das esfinges conhecidas são de períodos posteriores ao da grande esfinge de Gizé e normalmente havia muitas delas nas avenidas como as de Karnak. Estátuas colossais, obeliscos, e assemelhados aparecem frequentemente aos pares, como marcadores para as entradas de templos, mas nesse caso também datam de tempos posteriores. Antes de ser esculpida, a esfinge não era mais do que um outeiro rochoso de pedra calcária no planalto. Em outras palavras, não se trata de uma estátua colocada no terreno, mas uma escultura cortada na pedra viva. Não existia nenhum outro outeiro onde se pudesse esculpir uma segunda esfinge. As tumbas que datam do mesmo período ocupam o território adjacente e a pedreira ao sul da pirâmide de Kéops limita o lado ocidental da esfinge, não deixando espaço para outro monumento.

A afirmativa de que um antigo papiro fragmentário registra que havia outra esfinge do outro lado do Nilo é considerada totalmente enganosa, já que o rio fica a quase oito quilômetros de distância. Não se pode considerar como um par, dois monumentos separados por distância tão grande. É certo que na IV dinastia (c. 2575 a 2465 a.C.) o Nilo estava mais próximo de Gizé do que hoje, mas não ficava adjacente ao planalto. A arqueologia provou que os egípcios construíram um largo canal do rio para trazer água até o planalto e construiram vários cais para que os barcos podessem chegar nas proximidades dos templos do vale. Afirmar que duas esfinges voltadas para leste e oeste representariam o Alto e o Baixo Egito é outro ponto que merece reparos. Os egípcios criaram estruturas arquitetônicas que representavam as duas terras do império, mas elas eram erguidas cuidadosamente voltadas para o norte e para o sul. A grande esfinge, deliberadamente, olha para leste porque contempla o horizonte sobre o qual o Sol aparece. A esfinge representa o deus Hórus e sendo este um deus solar, faz sentido que o monumento olhe para leste.

Na hipótese de ter havido um par de esfinges, elas teriam marcado alguma entrada ou um caminho para procissões de algum tipo, o qual passaria entre os dois colossos. Assim, o único lugar verdadeiramente lógico para pôr uma segunda esfinge, considerados os princípios da antiga arte religiosa egípcia, teria sido a uma distância muito curta ao sul da esfinge existente, balizando a calçada que leva até à pirâmide de Kéfren. Porém, não há qualquer evidência de uma segunda esfinge nesse local. Não importa quanto tal monumento tenha sido destruído, algum sinal teria sido deixado.

A afirmativa de que a suposta segunda esfinge teria sido destruída por uma inundação do Nilo não encontra qualquer evidência arquitetônica ou arqueologica e, portanto, é pura especulação. Também se duvida que um povo que tanto se esforçava para erguer monumentos em pedra tenha usado tijolos no miolo desta esfinge. Se existiu uma segunda esfinge, ela teria sido construída de sólida alvenaria, de acordo com o nível dos conhecimentos de engenharia da IV dinastia (c. 2575 a 2465 a.C.). Caso um terremoto tivesse sido tão violento a ponto de derrubar tal estrutura, seriam vistos sinais claros de severo dano nas mastabas adjacentes. A IV dinastia foi um período no qual muitas mastabas ainda foram feitas de tijolo de lama e revestidas com blocos de pedra calcária. Um forte terremoto teria colocado por terra muitas das mastabas de Gizé e, ao contrário, a maioria delas está bastante preservada. E diga-se mais que muito da pedra calcária na qual a Grande Esfinge foi esculpida é altamente delicada e friável. Tem sido um problema através dos tempos conservar o monumento por causa da qualidade pobre de sua pedra. O terremoto provavelmente teria deixado a esfinge em ruinosas condições.

Existe ainda um argumento lingüístico contra a existência de duas esfinges. A palavra egípcia esfinge era Sspw (shespu). Ela é grafada com vários hieróglifos e com a figura de uma esfinge como determinativo, ou apenas com a figura da esfinge representada como um leão deitado. Os egípcios empregavam um sufixo gramatical especial para denotar dualidade: wy. Este sufixo não era muito usado, e normalmente só o era com objetos que vinham aos pares. Nos textos existentes não são conhecidos exemplos nos quais a esfinge de Gizé seja chamada de Sspw.wy, denotando um par. Também não são conhecidos textos nos quais os egípcios mencionem uma segunda esfinge. A esfinge era a encarnação de um deus e foi adorada pelas pessoas do mesmo modo que as estátuas das divindades erguidas dentro dos grandes templos. Estelas eram oferecidas nas quais aquele que venerava a esfinge se fazia representar. Duas estelas particularmente bonitas, da coleção do Louvre, mostram Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) apresentando oferendas à esfinge. Nelas só uma esfinge é representada e suas inscrições não fazem qualquer referência a duas esculturas.

Na hipótese de haver existido uma segunda esfinge, onde estão suas ruínas? Algo tão grande deixaria fragmentos facilmente identificáveis, mas nenhum fragmento foi achado até hoje. O planalto de Gizé foi esquadrinhado por arqueólogos durante os últimos dois séculos e continua sendo escavado, mas nada identificável como uma segunda esfinge foi encontrado. O consenso mais geral é o de que ninguém, até o momento, formulou um argumento convincente ou apresentou uma evidência substanciada que justificasse uma investigação acadêmica sobre o assunto.

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